
Hoje, depois de um almoço com uma amiga no Vertigo, ao Chiado, decidi dar um salto ao Largo das Belas Artes para espreitar o novíssimo showroom da Bulthaup/Gaggenau que inaugurou na semana passada (as minhas obrigações para com as minhas crias impediram-me de assistir ao "evento" e espero não usar muito mais esta abominável palavra). Estive uns minutos perdida, sem encontrar a dita loja, e quando estava quase a interpelar dois estudantes que conversavam no meio da praça, vejo, do outro lado da rua, três janelinhas seguidas, com o logótipo do fabricante alemão de cozinhas discretamente colado ao vidro. Entrei no prédio, toquei à porta e fui gentilmente recebida por um senhor da Bulthaup que, quando me identifiquei como jornalista, se desfez em explicações sobre todas as cozinhas (eles chamam-lhes "sistemas"), bancadas, "soluções" e "inovações" do lugar. O lugar é sem dúvida muito bonito. Como bonitas são as cozinhas da Bulthaup e os candeeiros da Established & Sons. Mas a vida tem destas coisas. E pregou-me uma partida de encolher a alma. Este showroom com janelas é uma loja sem montra, e nas traseiras, tem uma das mais soberbas vistas sobre a cidade da Lisboa (e Tejo, e tudo). Uma vistaça que eu elogiei, logicamente. E que ingenuamente, me apressei a comparar: "Parece a vista da Casa do Algarve!" exclamei, saudosa de um almoço perfeito, a uma das janelas com vista sobre a cidade. E o senhor, muito solícito, atira-me um balde de água fria, cabeça abaixo, sem querer: "É que isto era a Casa do Algarve". Caiu-me tudo. Começo a olhar em volta. Aqui estava o espelho. Aqui uma colecção de garrafas de vidro. Aqui era a cozinha (e mantém-se a moldura de pedra onde estaria o fogão). Ali a mesinha onde nos sentámos. Dizem que nunca devemos regressar ao lugar onde fomos felizes. Pois aqui já não voltamos, meu amor.
(este post não tem links em homenagem à extinta Casa do Algarve. Na imagem, Largo da Academia das Belas Artes, Lisboa)
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