"A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final."
Luís Fernando Veríssimo

sábado, 30 de janeiro de 2010

Matrioska Mood




É impressionante como proliferam as Matrioskas. Parecem cogumelos. Vêm por ondas, levas, rajadas, e parece que estamos de novo imersos num Matrioska Mood generalizado. Não sei onde começam as tendências. Parece-me que não são obra de cabeças, isoladas ou agrupadas, que de repente se põem a bolar o que se vai usar, ouvir, ou dizer. Não são uma coisa consciente, assim. E por isso às vezes, intuitivamente, de olhos fechados, antecipamos tendências (como quando penso no que terei feito às minhas velhas doc martens castanhas e depois vejo que as recuperam na Comptoir des Cottoniers). Outras vezes limitamo-nos a constatá-las. Como no caso da mania das Matrioskas. O fascínio que exercem sobre nós deve ter alguma explicação. Será a escala? a expectativa? a falsa surpresa? a sensação de infinito? A abrir e fechar mulheres redondas, de lenço na cabeça e bochechas rosadas, da "mãe de todas" à mais pequena (a única que não contém segredos anunciados) deslizo com estranheza até à minha infância. S. ressona, ao meu lado. A chupeta adormecida, ao seu lado. Acho que nunca viu uma Matrioska.

(nas imagens: papel de embrulho da nineteenseventythree, macacão da theirnibs e boneca de crochet da anthropologie)


Dobradinha


Konstantin Grcic é o "Criativo do Ano" da revista Blue Design. Konstantin Grcic é o "Furniture Designer of the Year" da revista Wallpaper. Temos dobradinha.

(na imagem, a capa do #12 da Blue Design, da autoria de Catarina Carreiras/ FABRICA)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Esta Maçã Tem Bicho (E Nós Mordemos)



É o novo bicho da Apple (com "é", não "ei", coitadinhas das maçãs que não fizeram mal a ninguém) e acabo de tropeçar nele. Eu e mais não sei quantos milhões de internautas. Foi oficialmente apresentado há três horas e já está por todo o lado. Chama-se iPad e não é um iPod gigante nem um computador pequeno. Também não é um iPhone, apesar de ter acesso a 140 mil apps (aquelas aplicações para tudo e para nada). É finíssimo e branquíssimo e elegantíssimo como tudo o que sai da cabeça de Jonathan Ive (que acabei de descobrir, via vídeo de apresentação do iPad, é Jony para os amigos). É alta tecnologia lounge. Dá para tudo, só não tem câmara (hélas!). Podemos navegar na Net, ouvir música, ver fotografias e filmes, ler o jornal, ou "folhear" um livro descarregado em poucos segundos. Dizem os entendidos que vai destronar o e-reader da Amazon, e já lhe chamam um "Kindle killer". Diz Steve Jobs que é revolucionário. Dizem as mulheres que os tipos do marketing da Apple são estúpidos, porque "pad", em inglês, também é sinónimo de penso higiénico (e realmente parece fino e seguro, como se pode ver aqui) . Eu acredito em tudo. Buy it all. Até o próprio bicho, assim que puder. Ainda não está à venda mas até aí está tudo pensado. O preço da versão básica é 499$. O que, pensando bem, até é um bocadinho assustador.

(na imagem, o novo iPad da Apple. O vídeo de apresentação, muito americano e muito hipnótico, está aqui)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Ainda Inga



Já adormecia, neste sofá de Inga Sempé. Parece um banco de jardim, mas ficava mesmo bem, todo armado em chaise-longue, debaixo de uma destas janelas, com a luz ideal para ler. É muito bom o contraste entre a rigidez da madeira e a souplesse da "colcha" que o cobre. É melhor ainda a simplicidade. Ainda Inga, que povoa o nosso mundo de objectos acertados.

(nas imagens, duas versões do novíssimo sofá Ruché, de Inga Sempé para Ligne Roset. Rima e tudo, ena ena.)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Fio à Meada




Descobri estas "luvas" via Rosa Pomar. Finalmente encontrei uma boa razão para não querer que o Inverno acabe rapidamente. Que delícia. Descobri que as ditas luvas -wrist worms- são feitas à mão, na Suécia, por uma senhora cheia de talento que vive numa casa daquelas que só existem nos blogues. Chama-se Sandra Juto e é ilustradora e designer gráfica. Enquanto não chegam as minhas (já me imagino a passear, velocíssima, pelas teclas do computador com umas calçadas) quase perco o fio à meada entre posts e links luminosos. Nunca mais acabam. Que bom.


(Não resisti a postar mais do que uma imagem das criações em crochet de Sandra Juto, as genuínas Wrist Worms. Todas as imagens © Sandra Juto)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Pastelar



O brunch de domingo abriu-me o apetite e veio mesmo a calhar para mostrar estes utensílios para cozinha (para pastelaria) desenhados por Matali Crasset. A francesa acertou na mouche, também o design se come com os olhos, sobretudo se for inteligente, como é o caso (atenção à taça misturadora, com um recipiente mais pequeno incorporado para fazer "grupinho à parte" - às vezes faz sentido- e misturar alguns ingredientes primeiro). Fê-lo with a little help de Pierre Hermé, aka "o Picasso da Pastelaria". O conjunto, chamado Essentiel de Pâtisserie, está a ser produzido pela Alessi. É de deixar água na boca. A propósito, agora até ia um macaronzito.

Não s'aguenta


Em homenagem à minha sogrinha, estreio rubrica. Não s'aguenta, expressão utilizada para todas aquelas pessoas (normalmente crias - netos- a fazer gracinhas or just being themselves), coisas, situações, irreprimivelmente irresístiveis. Como estas botas da Elodie Details. Qui ámô.


(Ainda não conheço M. a recém-nascida da minha amiga J. que nasceu hoje - e o sol pôs-se a brilhar - mas já nos imagino a aprincesar/empirosar a criatura com coisas destas.)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

1:16


Adoro estas modernices modernistas. Olho para esta casa de bonecas, réplica exacta da casa de Arne Jacobsen, construída em 1928 num lugar chamado Charlottenlund e suspiro. Adorava ter 4 anos outra vez. E uns pais "fora" que me comprassem uma casinha assim. De plástico, com paredes e tecto desmontáveis (e que voltam a fechar-se com a ajuda de ímanes), à escala 1:16, e para completar com acessórios que rimam (Egg chair et alt.) é uma cópia liliputiana da villa do designer dinamarquês, com pequeníssimas alterações pensadas para facilitar a brincadeira. De chorar por mais.

(na imagem, casa de bonecas Arne Jacobsens Own House, produzida pela minimii. O preço ainda não foi revelado)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Dois em um



Luca Nichetto pode muito bem ser o sinal de que o design italiano se renova. O que é muito bom. Nasceu em Veneza, por isso sente-se como peixe na água a trabalhar o vidro. E não só. Quando a Bosa Ceramiche e a Venini lhe pediram, cada uma, que desenhasse uma colecção, Nichetto juntou o útil ao agradável e colou-as uma à outra - a cerâmica e o vidro, a Bosa e a Venini. Assim nasceu Essence, uma linha de edição limitada (29 peças) feita à mão. Trata-se de uma reinterpretação dos utensílios de produção artesanal de vidro e cerâmica, que Nichetto conhece bem. Objectos que remetem para si próprios e contam histórias, combinações invulgares de materiais (também há elementos de metal e madeira), funcionalidade actualizada e uma estética clean, táctil e luminosa. Essence foi apresentada em Veneza e agora prepara-se para conquistar Paris, na Maison & Objet. Chapeau.

E eu, e eu?


Depois de produzir peças de vários gigantes do design (assim, de repente, lembro-me de chair_ONE, de Konstantin Grcic, e esta bastaria para me convencer) a Magis volta-se para os mais pequenos, que também têm direito. Lançada em 2004, a colecção Me Too, com objectos e mobiliário para crianças dos dois aos seis anos, tem novidades. A ideia surgiu quando o presidente da Magis, Eugenio Perazza, procurava uma secretária para a sua neta de dois anos, que adorava desenhar. Deparou-se com o vazio. Ao contrário de outras marcas, que reduzem a escala e fazem versões mini dos clássicos, a Magis propõe uma colecção de objectos para crianças desenhados de raiz. Eero Aarnio e Enzo Mari, mas também Javier Mariscal e El Ultimo Grito são alguns dos designers convocados para desenhar para os mais pequenos (e não para os pais que adoram que os filhos se sentem num clássico). O resultado são mesas que se transformam em castelos, roupa que ajuda a aprender a tabuada (ou a fazer um bocadinho de batota...) e tapetes que se montam como um puzzle.

(na imagem, t-shirt da colecção Summer to Spring El Ultimo Grito)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Wild Thing


Estou à vontade para dizer bem. Ainda não levei G. a ver O Sítio das Coisas Selvagens, a adaptação de Spike Jonze do álbum ilustrado infantil Where the Wild Things Are (1963) de Maurice Sendak. Para não variar (a julgar pelo tom mauzinho de pelo menos uma crítica do Público) parece que o filme fica aquém do livro. E assim, às cegas e à partida, cheira-me que o filme é mais para os pais do que para os filhos. Ou para os pais (entre os quais me incluo) que adoram a ideia de levar o broto a ver um filme de Spike Jonze. É cool, e há que assumi-lo. Por alguma razão a banda sonora é de Arcade Fire (que nem são, perdoem-me, my cup of tea...)
Reconhecendo que quero ver o filme porque amei viajar para dentro da cabeça de John Malkovich (que também não é, perdoem-me outra vez, my cup of tea), não é menos verdade que quero fazê-lo na companhia do meu filho mais velho, que foi justamente quem me apresentou aos monstrinhos em questão. Não os de Jim Henson, que preenchem o filme de Jonze, mas os originais, criados por Sendak. Este clássico da literatura infantil anglo-saxónica chegou-nos pela mão dos franceses, na edição L'École des Loisirs, que todos os anos religiosamente assinamos... Do lado de lá dos Pirenéus tem um título musical: Max et les Maximonstres, e durante o ano passado foi uma das nossas leituras preferidas de sexta-feira à noite. A história de Max, um menino que fica de castigo e vai para a cama sem jantar, só para viajar para o país dos monstros, onde é rei, e depois regressar ao ninho, deixava-nos embasbacados. Porque sendo próxima, é inesperada e bela. Simples e concisa, é incrivelmente rica e profunda. E nada recomendável, como se quer (o filho começa por chamar "monstro" à mãe, que o manda para a cama sem jantar, mas quando ele regressa da viagem - da trip, convenhamos- tem a comida à sua espera, porque mãe é mãe e precisamos de um final feliz). Amanhã, talvez consiga levar G. a ver o filme. Entretanto, estou à vontade para dizer bem. You make my heart sing.

(imagem: ilustração do livro de Maurice Sendak, Where the Wild Things Are (1963). A edição portuguesa, que saiu em Dezembro, chama-se Onde Vivem os Monstros, e podem vê-la aqui)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ring(s) a Bell


Liso. Limpo. E lindo. A terceira geração do XO, o computador desenhado por Yves Béhar/Fuse Project para a organização não lucrativa One Laptop per Child, de Nicholas Negroponte, já está (quase) aí. Como os seus predecessores, o XO-3 é um "bicho" tão bonito por fora como inteligente por dentro. Um upgrade minimal do computador original, é uma redução inspirada (até no preço, a meta é que custe 75 dólares). Todo de plástico (incluindo o ecrã, que assim fica inquebrável e dura mais), à prova de água e com metade da espessura de um iPhone, a única coisa que retém dos portáteis actuais é o tamanho. O teclado e todos os botões evaporam-se, deixam de ser físicos e passam a aparecer no ecrã touch, ou melhor ainda multi-touch, o que permite que várias crianças brinquem ao mesmo tempo. Tem câmara incorporada (a lente é um minúsculo pontinho por baixo do X) e, num dos cantos, uma pequena pega em forma de anel, revestida a borracha, que o torna facilmente transportável. Quando for lançado, em 2012, o XO-3 será um cruzamento entre um e-reader, um jogo de tabuleiro (quando se coloca na horizontal, duas crianças podem jogar ao mesmo tempo) e um computador.


(Lançado em 2007, o XO ficou conhecido como o "laptop dos 100 dólares" desde então foram distribuídas mais de um milhão de unidades a crianças desfavorecidas de todo o mundo. O objectivo da organização One Laptop per Child é dotar as crianças de uma ferramenta para a educação e garantir o acesso à informação para todos. No Uruguai, todas as crianças entre os 6 e os 12 anos que frequentam uma escola pública têm um. )

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Apetite


Mesmo para uma entusiasta do aleitamento materno como eu, há casos em que há que louvar o biberon. Porque não somos fundamentalistas (cruzes credo) e não culpabilizamos as mulheres que não conseguem, ou não querem, ou não podem dar de mamar, deixamos aqui uma sugestão: façam-no com estilo. Com um biberon ergonómico, redondinho e kansei, como este desenhado pela californiana Mimijumi, que é o mais perto que se consegue chegar da maravilhosa morfologia humana. O leite está na cabeça, dizem os especialistas na matéria. E quando não está, ao menos que esteja armazenado numa garrafa assim...

Amachucado


Estes mapas em Tyvek (o material que é como se fosse papel, mas não é) parecem ter sido desenhados para mentes apressadas e mãos desajeitadas. Como as minhas. Imaginem a maravilha de passear por Tóquio (ou Paris, ou Londres) e não precisar de perder tempo na laboriosa tarefa de dobrar o mapa. Só de pensar fico com uma dor no pescoço. O jovem designer Emanuele Pizzolorusso simplifica: toca a amachucar o mapa, e assim, amarrotadinho, para dentro do saquinho. Maravilha. Não sabemos onde se vendem mas podem vê-los aqui.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sossego


Ontem acabou oficialmente a quadra natalícia. Que sossego. Em Espanha, onde o Dia de Reis se celebra à séria, mal acaba o frenesim consumista do Natal, começa logo outro: os saldos. Aqui a coisa é mais diluída. Vai-se deslizando, sorrateiramente, do consumismo assumido para o camuflado. Seja como for, é um exagero. Agora podemos respirar. Voltar ao blog. Descansar de tanta luzinha e tanto anjinho e tanto pai natal e tanto menino Jesus pendurado à janela. Pior, só as bandeiras do Scolari. Como não conheço bolo-rei com dézaine (talvez procurando no Fabrico Próprio...) aqui ficam uns bolinhos da Marije Vogelzang. Chamam-se Cupcakes With a Lack of Attention. Pedem para ser comidos. E fazem tudo para atrair o nosso olhar.

(imagem recortada do livro Eat Love, publicado pela Bis Publishers)