"A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final."
Luís Fernando Veríssimo

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Miami Vai-se



Do que me chega da última edição da Design Miami (Meca do design art e ponto de encontro obrigatório entre designers, galeristas, coleccionadores e os insaciáveis media) retenho duas coisas: Maarten Baas, o previsível "designer of the year" estreia barriguinha (que desleixo!) e Peter Marigold confirma que é um player pas comme les autres.
Enquanto Baas volta às origens, e queima mais uns ícones para Murray Moss (e os espevitados Studio Job voltam a mostrar-nos o luxo rural com a série Farm, que tédio!), o londrino Marigold ocupa-se de coisas sérias. Com a série Palindrome, explora o conceito de simetria numa colecção de móveis duplos, metade gesso, metade madeira. A brincadeira à volta do molde e da cópia (um buraco na madeira transforma-se num puxador no gesso) tem um efeito radiante. E funcional. Para acentuar a ideia, Marigold gravou na metade molde de cada peça uma palavra (um palíndromo, que se lê da mesma maneira da esquerda para a direita e da direita para a esquerda) que aparece espelhado, e legível, na metade cópia. A palavra, como o design de Marigold, faz sentido nos dois sentidos.
E pouco mais fica. Miami vai-se.

(e J. volta! estarás a sobrevoar o Atlântico, agora...)

Bichos


A Lego e a Muji encontraram-se à esquina e a tocar a concertina bolaram este brinquedo altamente criativo. Os tijolos de plástico da Lego completam-se com as figurinhas de papel e stencil da Muji para formar estes divertidos bichos. Encaixam que é uma maravilha (foram desenhados para isso) e ajudam a dar asas à imaginação. Pena que por enquanto seja só para as crianças japonesas.

Travelling



Depois de terem feito uma loja para a Camper, perto do Beaubourg, em Paris, os irmãos Bouroullec assinam um novo projecto para a criativa marca de sapatos espanhola. Chama-se Dos Palillos e é o restaurante do novo hotel da Camper em Berlim, que abre em 2010. Os Bouroullec parecem ter interpretado o brief com excelência. Vejamos: o chef dos Dos Palillos é Albert Raurich, discípulo de Ferran Adriá no El Bulli. O que significa que a estrela absoluta e indiscutível deste restaurante é a comida. Por isso Ronan & Erwan Bouroullec entregaram um projecto que faz uma vénia à arte culinária de Raurich e se retira, para a celebrar. A cozinha é o centro do espaço, e é aberta, para que os comensais possam "comer com os olhos" e assistir à preparação dos pratos, do princípio ao fim, confortavelmente sentados numa comprida mesa de madeira que corre paralela à "linha de montagem". "Cozinha em aço inox, mesa de madeira, um módulo em face do outro", explicam os designers. A intenção era criar um cenário reduzido e cru, para que o chefe brilhasse no verdadeiro centro da acção. Abre-se a cortina (atenção ao lado dramático: é dourada, como um papel de embrulho sonoro) e os convidados (ou quem passe na rua, só há vidro na fachada) assistem a um apaixonante travelling sobre o que se passa na cozinha. Ai que saudades do futuro... quando é que vamos a Berlim?

(imagens: Paul Tahon & Bouroullec)

domingo, 13 de dezembro de 2009

Cavalitas


Amoroso este patinho-filho às cavalitas da patinha-mãe. Mãe e filho têm o tamanho certo para serem agarrados (e empilhados) por dedos pequeninos. Fora de água, balançam-se como um sempre em pé. São uma novidade da Kid O, e mais uma razão para querermos desesperadamente regressar a NYC.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Cósmica




Via Láctea é nome desta preciosíssima colecção de porcelana desenhada pelo (ilustrador) Júlio Dolbeth e o (designer) Sam Baron para a Vista Alegre. As peças foram apresentadas durante a Experimenta mas parece que já não estão na loja do Chiado. Com muita pena nossa, porque eram uma janela para um oásis urbano à maneira. A partir de elementos históricos, retirados dos arquivos da Real Fábrica de Porcelanas (que vão desde asas, a carrapetas, passando por elementos gráficos como a coroa) Dolbeth e Baron compõem constelações imaginárias. As peças são pintadas à mão, e o contraste entre o brilho e o mate, o velho e o completamente novo, são só mais duas razões para nos rendermos. Chapeau.

(Dolbeth e Baron são dois dos meus players de eleição. Como a barra de favoritos ainda não está pronta, por favor cliquem aqui e aqui, e deliciem-se)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Espreitadela


Tropecei agora neste projecto de Jaime Hayon para os joalheiros Fabergé, em Genebra. Ainda não há mais imagens, mas esta já dá para espreitar. Imaginem o resto!

Ar Puro


Adoro estes candeeiros da Inga Sempé. Chamam-se Vapeur e são de Tyvek. As pregas (trademark de Inga) ajudam a criar estrutura e a manter estes balões de pé, viçosos. São um dos hits da novíssima editora Moustache, criada em Paris pelos donos da Domestic (havemos de lá voltar). Existem pequenos e médios, de mesa (ou de chão) e de tecto. São poéticos e materiais. E encarnam o middle luxe: bom mas não estupidamente caro.

(imagem Felipe Ribon. Os candeeiros vapeur estão em cima de um módulo de arrumação, também de Inga Sempé, também com pregas, também editado pela Moustache)

Subtil



Acho este jogo da Kid O, que "ensina" as crias a descobrir as subtis diferenças entre os tons, altamente recomendável. E não só para crianças sensíveis e criativas. Há tantos adultos a precisar de nuances para a vida! E este Matching Shades é um excelente exercício.

(imagem Kid O)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Vermelhíssima


Num acesso de patriotismo consumista, a italiana Edra lançou recentemente esta versão "verde bianca rossa" da icónica cadeira Vermelha dos irmãos Campana (agora que reparo, as cores não seguem a ordem exacta da bandeira... e de repente lembro-me do Martini). A edição especial vem mesmo a calhar para o natal. Até rima. Mas não entusiasma. Aqui, vou ser conservadora: prefiro a original.

Equilibrada


Com uma bina destas, não precisamos de esperar que os nosso filhos nos peçam a tradicional bicicleta natalícia. Antecipamos o seu desejo, logo aos 24 meses. E mesmo antes de que saibam pronunciar correctamente a palavra "bicicleta", já há uma à espera, só para eles. Cá em casa andamos a sonhar com a LikeaBike desde que o S. estava na minha barriga. Pensávamos que era já, no natal, mas descobrimos que ainda não tem idade. Que suplício.
Entretanto, vou investigando os vários modelos na Net: a Forest, anunciada como "the masterpiece", com os seus pneus todo-terreno, a clássica Mountain e até a Mini, para crianças mais pequenas (em tamanho, não idade). Desenvolvida na Alemanha, a LikeaBike é uma bicicleta de madeira sem pedais, desenhada para crianças dos 2 aos 5 anos. Em bétula, com pneus de borracha e selim regulável, ajuda a desenvolver as capacidades motoras e o sentido do equilíbrio (meio caminho andado para saber andar sem rodinhas). E o que é mais importante: fortalece a autoconfiança, como qualquer brinquedo que seja um desafio, mas seguro. Também tem um design impecável. E imensos acessórios.

(Um ícone para crias contemporâneas, o design da premiada LikeaBike baseia-se numa engenhoca do séc. XIX: a Draisienne, uma bicicleta sem pedais, inventada pelo Barão Karl Drais von Sauerbronn, em 1817. Na imagem, Forest, com o pára-lamas verde.)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Definitivo



Depois da exposição, o livro. A Gestalten anuncia para breve (Dezembro 09) a publicação do livro Less and More: The Design Ethos of Dieter Rams. São 808 páginas que registam 40 anos de design imaculado. Rams, a Braun "and beyond" num volume que contém ainda textos inéditos sobre um dos designers mais influentes do século XX e o seu legado. Os autores: Klaus Klemp e a japonesa Keiki Ueki-Polet os curators da exposição original. Imprescindível.

(imagens Gestalten)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Kilim Kilim



Esta cadeira faz Kilim Kilim quando olhamos para ela. É feita à mão na Turquia com retalhos de tapetes kilim. É escusado dizer que não há duas iguais. Descobri-a na anthropologie (a.k.a anthro), um dos meus lugares sagrados para "terapia de retalho" na minha etapa Connecticut. Agora a anthro está mais perto: parece que abriram uma loja em Regent St. Quem não conhece a onda pode espreitar aqui. A inspiração está (por exemplo) aqui. Lovely.

sábado, 5 de dezembro de 2009

All Day Long





A Gestalten é uma das minhas editoras fétiche. Claro que é muito mais que uma editora, mas lá iremos. O catálogo é uma perdição. Mesmo quando os livros não se lêem. Mesmo quando são apenas um objecto. Bonito. Nem sei por onde começar, por isso começo por quem está primeiro: as crias. Play All Day: Design for Children é uma colecção de ideias e produtos de design estimulantes e criativos. Um elenco de brinquedos, brincadeiras, espaços, mobiliário e arquitectura para crianças. Com opiniões de pais, designers, e designers que são pais. Maravilha.

(imagens Gestalten)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A Ilusionista



Constance Guisset é a nova menina-bonita do design francês. Que começou por trabalhar com os outrora meninos-bonitos do design francês (agora já não são meninos) irmãos Bouroullec. Guisset, que estudou sciences-po e joga andebol, cria objectos de sonho. Literalmente. Porque uma gaiola-aquário que provoca um "encontro ocasional" entre um pássaro e um peixe, um candeeiro que se acende com um interruptor esférico que flutua (Fiat lux) ou uns talheres que se transformam em mobile (Funambule) não são, à partida, objectos deste mundo. Ou sim?
Para os que preferem estar sempre acordados, Guisset também tem argumentos, como o caixote de reciclagem Tri3, que permite separar o lixo sem perder a postura (vertical).

(duas imagens, mas apetecia mostrar todas. A gaiola-aquário Duplex e o sistema Tri3. Fotografias de Felipe Ribon)

Um Cheirinho de Viagem


Quando me trouxeram estes sacos de Paris, apeteceu-me pendurá-los na parede, em molduras de vidro, ou caixas de acrílico, tão bonitos me pareceram. Mas a verdade é que não resisti a usá-los. Bordados à mão e em algodão, são perfeitos para mães desorganizadas e viagens atribuladas. Também existe um saco para brinquedos (cada um dos meus crios foi presenteado com um...), que aliás era o motivo deste post, mas não há maneira de encontrar uma imagem do maravilhoso "sac à jouets" na Net. São da Fragonard. Só não cheiram.




(imagem: saco para leggings (!) e collants da Fragonard)

Muito Konstantin


Ultimamente estou muito Konstantin. Por isso escolho a entrevista de Grcic na blue Design como o meu "highlight" desta edição. Também lá está uma review da Experimenta (que faz a capa), Matali Crasset e "muitas coisas mais". Já nas bancas.


(imagem: abertura da entrevista de Konstantin Grcic à blue Design #11)

No Telhado



Quem tem filhos e já fez uma mudança sabe como as crianças gostam de brincar com caixotes. Os mais pequenos metem-se dentro deles, os maiores desmontam-nos e fazem deles casas ou túneis ou montanhas ou o que se quiser. É uma delícia ver como a imaginação se solta. Precisamente porque o mais básico é o mais ilimitado. Uma delícia e um descanso, se pensarmos no tempo que se entretêm com o caixote. Para tornar a brincadeira ainda mais perfeita, sem retirar nada à imaginação, a kidsonroof (só o nome é lindo) fez uma casa de cartão que é mesmo uma casa de cartão, com telhado, portas e janelas. Existem duas versões base: uma grande, onde eles podem entrar, e uma pequena, que funciona como casa de bonecas. Algumas são lisas (para estimular a criatividade, nestas paredes pode-se pintar) outras vêm decoradas. A nossa preferida é a azul, que já muita gente conhece, mas não resistimos a mostrar a versão dézaine, clean e minimal, criada pelo colectivo de design (para crianças) italiano nume.

(A kidsonroof foi fundada em 2005 por um casal holandês - lógico - com a ideia de ligar a vida moderna à natureza. Todos os anos o casal e as suas três crias retiram-se uma temporada para uma casa no sul de França, sem electricidade nem água corrente para "reconnect". É daí que vem a inspiração.)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Konstantinopla



Konstantin Grcic é o ilustríssimo "guest curator" da primeira exposição de design da Serpentine Gallery de Londres. Chama-se Design Real e como o nome indica é uma selecção de objectos reais, quase todos produzidos industrialmente, na última década (de uma vulgar vassoura às Melissa de Zaha Hadid). Grcic considera-os especialmente relevantes, e por isso mostra-os a nu, completamente descontextualizados, anónimos, para que a experiência seja directa, sem mediação. Só depois cada objecto (que corresponde a uma categoria genérica, como "contentor", "cadeira", "computador") é devidamente identificado, relacionado, explicado e esmiuçado até à exaustão num dispositivo desenhado por Grcic e com o apoio de uma ferramenta única: um site, que é metade da exposição. É muito inteligente e vivo, e transporta a exposição para fora da galeria. Mesmo assim, preferia pôr um pé na Serpentine.

"The relevance a product has to our life lies not only in its use, but also in how far we identify with it. A good product becomes part of our culture" Konstantin Grcic

(Konstantin Gric anda muito exposto. No Art Institute of Chicago dedicam-lhe uma retrospectiva: Decisive Design. Até 24 de Janeiro)

(imagens Serpentine Gallery)

T Time(s)



T, o suplemento de estilo do NYT, é uma delícia para os olhos e para a alma. É uma espécie de antidepressivo em forma de publicação online. Com estrutura, conteúdo e alma, é uma colecção de coisas muito f(úteis) apresentadas "the american way", é certo, mas assim, com muito estilo. Adoro os editoriais fotográficos e o nível do colunistas (Alice Rawsthorn). A última edição é dedicada às viagens, mas de perder a cabeça é mesmo esta. Sobre crias, é claro.




(imagem: Sofia Coppola numa capa -antiga- do T)

Dieter Burton




O que têm Dieter Rams e Tim Burton em comum? Absolutamente nada, imaginamos, a não ser que protagonizam duas exposições imperdíveis, uma de cada lado do atlântico. Em Londres, no Design Museum, o guru alemão que revolucionou a paisagem (electro)doméstica com a Braun é objecto de uma retrospectiva contundente, suportada num design de exposição cinco estrelas, da responsabilidade do estúdio Bibliothèque (a propósito, espreitem aqui). Em Manhattan, Tim Burton aterra no MoMA com a sua delirante e deliciosa freakalhada, numa megaexposição com mais de 700 objectos (incluindo desenhos, maquettes, marionetas, esculturas e pinturas) que eleva um dos últimos "auteurs" do cinema americano à categoria de "surrealista pop".

The Design Ethos of Dieter Rams, até 7 de Março no Design Museum, Londres
Tim Burton, até 26 de Abril no MoMA, NYC

(não esqueço os Dez Princípios do Bom Design de Rams. Aliás, ando com eles na cabeça porque se aplicam a muitas coisas da vida. O Design Museum organiza uma conferência sobre o decálogo e convida os participantes a pensarem num 11º princípio. Painel TBA, mas será no dia 2 de Março, no Goethe Institute de Londres (e a pergunta é: terá um jardim como o nosso?))


24 Horas


A nova loja de Issey Miyake em Tóquio é um projecto do atelier nendo, ou seja, de Oki Sato, a coqueluche do design nipónico. E é, como todos os projectos nendo (ou pelo menos todos os que recordamos) absolutamente irrepreensível. A loja chama-se "24" porque o conceito e a estética inspiram-se nas lojas de conveniência japonesas, lugares onde, como explica Sato, se respira um "caos harmónico", de dinamismo e fluidez. No espaço vende-se uma selecção de peças de cada uma das linhas de Issey Miyake, disponíveis em 20 cores diferentes. Com tanta cor, Sato só podia ter optado pelo branco como pano de fundo, mas temos a impressão de que o teria feito de qualquer forma. A loja é um enorme display: não há espaços de armazenamento (o que em Tóquio faz ainda mais sentido) e tudo o que se vende está à mostra. Para prolongar o efeito 24/24 o packaging inspira-se em embalagens de comida. O conteúdo da loja muda de dois em dois meses, e a ideia é que ao mudar a roupa, a loja mude radicalmente. Mais um momento "!".

(imagem: Masayuki Hayashi)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Bugaboo (RED)


A Bugaboo não é só o melhor fabricante de carrinhos de bebé do mundo. É também o mais solidário melhor fabricante de carrinhos de bebé do mundo. E apesar de ser camaleónica (veja aqui), quando a ocasião o justifica, pode adoptar uma só cor: (RED). Desde que se tornou membro da (PRODUCT)RED, iniciativa através da qual uma percentagem dos lucros das marcas associadas revertem a favor da Global Fund, a Bugaboo ajudou 4488 mulheres grávidas a reduzirem o risco de transmitir o vírus HIV aos seus filhos, através da compra de medicamentos. Como as outras marcas, a Bugaboo desenvolveu uma linha de produtos (RED). Mas é a primeira marca que vai mais longe ao doar 1% de todas as receitas da empresa à Global Fund. Ou seja, como nos lembraram ontem, Dia Mundial da Sida, "it's all (RED). We're all (RED)".

Onde foste parar, Casa do Algarve?


Hoje, depois de um almoço com uma amiga no Vertigo, ao Chiado, decidi dar um salto ao Largo das Belas Artes para espreitar o novíssimo showroom da Bulthaup/Gaggenau que inaugurou na semana passada (as minhas obrigações para com as minhas crias impediram-me de assistir ao "evento" e espero não usar muito mais esta abominável palavra). Estive uns minutos perdida, sem encontrar a dita loja, e quando estava quase a interpelar dois estudantes que conversavam no meio da praça, vejo, do outro lado da rua, três janelinhas seguidas, com o logótipo do fabricante alemão de cozinhas discretamente colado ao vidro. Entrei no prédio, toquei à porta e fui gentilmente recebida por um senhor da Bulthaup que, quando me identifiquei como jornalista, se desfez em explicações sobre todas as cozinhas (eles chamam-lhes "sistemas"), bancadas, "soluções" e "inovações" do lugar. O lugar é sem dúvida muito bonito. Como bonitas são as cozinhas da Bulthaup e os candeeiros da Established & Sons. Mas a vida tem destas coisas. E pregou-me uma partida de encolher a alma. Este showroom com janelas é uma loja sem montra, e nas traseiras, tem uma das mais soberbas vistas sobre a cidade da Lisboa (e Tejo, e tudo). Uma vistaça que eu elogiei, logicamente. E que ingenuamente, me apressei a comparar: "Parece a vista da Casa do Algarve!" exclamei, saudosa de um almoço perfeito, a uma das janelas com vista sobre a cidade. E o senhor, muito solícito, atira-me um balde de água fria, cabeça abaixo, sem querer: "É que isto era a Casa do Algarve". Caiu-me tudo. Começo a olhar em volta. Aqui estava o espelho. Aqui uma colecção de garrafas de vidro. Aqui era a cozinha (e mantém-se a moldura de pedra onde estaria o fogão). Ali a mesinha onde nos sentámos. Dizem que nunca devemos regressar ao lugar onde fomos felizes. Pois aqui já não voltamos, meu amor.

(este post não tem links em homenagem à extinta Casa do Algarve. Na imagem, Largo da Academia das Belas Artes, Lisboa)

Players (a lista A)



Player: alguém que vale a pena e a quem poria uma coroazinha de Basquiat. Os A-listers do Playtime.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Martí e a Moleskine



Martí Guixé é um dos meus players preferidos. O ex-designer catalão (tão esperto que vive entre Barcelona e Berlim) fez para a Moleskine uma edição especial do "legendary notebook". Faz parte da Artist's Cover Collection e é altamente recomendável (e acessível), da capa encarnada (ou preta) aos stickers escondidos no interior. Pode espreitá-la aqui.

A Vida a Fazer-Se


G., o meu filho de seis anos, entretém-se a brincar com um velho Mac que um dia se estatelou no chão, deixou de poder fechar-se e passou de portátil a estático num segundo. Eu já não posso levá-lo comigo nas minhas andanças, mas G. não se importa. Para além de ver o desfile de bandeirinhas de todos os países possíveis e impossíveis na barra de idiomas, o meu filho perde-se pelo iPhoto. Passa horas a ver fotografias, recorta-as, dá-lhes voltas. Mas o verdadeiro prazer é fazê-las correr, umas atrás das outras,o dedo imparável numa vertigem de imagens que se sucedem. "Mãe, queres ver a vida a fazer-se?" pergunta G., sorriso luminoso. De repente lembro-me de Godard. "Le cinéma, c'est 24 fois la verité par seconde".

Imagem: Jean Seberg em À Bout de Souffle (1960). Pergunto-me o que dirá G. quando descobrir os jump cuts.

Pé de Meia


Os chaussons-chaussettes da Collégien são um cruzamento inspirado entre pantufas e meias. Nos civilizados países nórdicos, dizem-nos, ninguém anda em casa com os sapatos da rua. Eu, que sou mediterrânica até à medula, continuo a preferir o pé descalço quando chego a casa. Mas no Inverno, mesmo contando com a solidariedade do chão de tábua corrida, convém aquecer o pezinho. E estas meias (adoro todos os modelos às risquinhas) são uma belíssima alternativa. Tudo é melhor que chinelar, mas assim é melhor ainda.

(A marca virou trendy mas não é nova: foi criada em 1947. Com números do 20 ao 45, combina a suavidade da caxemira e a ergonomia da sola de borracha. E lava-se na máquina,a 40º!)

O Cosy é o Novo Cool


A revista Monocle de Dezembro avisa (sim, eles conseguem ser aterradores) que o cosy é o novo cool. "We still want our cities to be complex and ambitious - we just want cosiness to be recognised too", lê-se. E daí, partem para um lista (mais uma) de lugares cosy, de Estocolmo a Quioto.
Na verdade, e apesar da histeria colectiva à volta do fenómeno Monocle, cada vez há menos paciência para as sentenças high-end de Tyler Brûlé e o seu séquito. Veja-se o último número: num artigo (?) intitulado "Most Unwanted" - cinco coisas e pessoas que deviam desaparecer do mapa em 2010 - metem Larry King (a quem chamam, sem contemplações, "bag of bones") e Jon Stewart no mesmo saco. Please.
(Na imagem, a Monocle shop, cuja fachada reproduz o layout da capa da revista)

Rock Me Baby



Descobri esta loja nas páginas (palpáveis) da revista de domingo do El País. (pois é, ainda há quem compre jornais de papel, sobretudo ao domingo, e sobretudo se trouxerem um suplemento como o EPS). Chama-se Rock 01 Baby e fica, claro, em Barcelona. Felizmente para nós, que não podemos passear pelo Born tantas vezes quantas gostariamos, há a Net. E a loja está aqui. A ideia de abrir uma loja de roupa para bebés cool partiu de uma mãe que, ao querer vestir a filha durante o seu primeiro ano de vida, constatou que o mercado não estava ao nível das suas aspirações. Assim se descobre um nicho, e assim se começa um negócio de êxito. Não é que seja muito apologista dos pais a impingirem aos filhos o seu próprio gosto. Ou manias. Mas há que começar por algum lado. E é preferível um body dos The Who a uma t-shirt do Noddy. Para além dos clássicos prints nas T-shirts (o penteado afro de Jimmy Hendrix ou o submarino amarelo dos Beatles) existem ténis dos Ramones e babetes dos AC/DC (ok, este não comprávamos). E outras delícias para bebés menos eléctricos, como os estampados étnicos da Kambakids, as botas da Elodie Details ou os quimonos Lucky Wang. Lá voltaremos.

Tati Entre as Oliveiras



"Plantar uma árvore, ter um filho, criar um blogue". Esta podia ser uma boa máxima para os pais 2.0, entre os quais me incluo, mantendo as devidas distâncias (com o ecrã do computador, é lógico). Continuo a preferir contemplar os ramos de uma oliveira (mesmo que seja uma oliveira urbana, domesticada, como esta que espreita pela minha janela) a seguir o que quer que seja no twitter. Sou uma "proud mother of two" e, como Jonas, fiz 25 anos no ano 2000. O propósito deste blogue é partilhar duas ou três coisas que sei sobre duas ou três coisas de que gosto: design, filhos e outras criaturas (aqui inclui-se de tudo, de livros a cremes "premières rides"). Afinal, crias, crianças, criaturas e criatividade têm todas a mesma raiz. Playtime é uma homenagem evidente a Jacques Tati e a um dos filmes que levaria numa viagem para o espaço. É uma palavra bonita (e "estrangeira"), e reflecte o espírito deste blogue: mostrar bom design, mas sem o levar muito a sério. E mostrar boas ideias para crias e progenitores dos nossos dias, sem brincadeiras. As criaturas e as crias encontram-se neste recreio virtual. Divirtam-se!